Com duas grandes guerras, o eterno atrito entre Israel e Palestina, episódios emblemáticos no Vietnã, El Salvador, Angola, Líbano, nos Bálcãs, Afeganistão e tantos outros conflitos entre curtos períodos de paz, nunca tivemos, como agora, o olhar brasileiro da barbárie. Ao longo das últimas décadas, vimos a história no front sendo contada por fotógrafos norte-americanos, […]
Com duas grandes guerras, o eterno atrito entre Israel e Palestina, episódios emblemáticos no Vietnã, El Salvador, Angola, Líbano, nos Bálcãs, Afeganistão e tantos outros conflitos entre curtos períodos de paz, nunca tivemos, como agora, o olhar brasileiro da barbárie.
Ao longo das últimas décadas, vimos a história no front sendo contada por fotógrafos norte-americanos, franceses e japoneses, por profissionais de diversas nacionalidades e, a não ser nas salas de cinema, nunca havíamos estado nas primeiras filas acompanhando uma batalha. O Brasil falhou na missão de imprimir seu olhar na preservação da memória – um erro de prejuízos culturais irreparáveis, mas que, se depender de nossa atual geração de correspondentes, não irá se repetir.
Entrando no Museu da Fotografia Fortaleza, logo se percebe que a visão de quem traduz os conflitos é distinta. Nos anos 60, já vimos isso com a devastação do Vietnã nas páginas da extinta revista Life, cobertura para sempre reverenciada. Em uma semana, imagens do inglês Larry Burrows, carregadas de cores que remetiam ao surrealismo dramático de Bosch; em outra, a guerra Bauhaus em preto e branco do alemão Horst Faas. Os dois trabalhavam há poucos metros um do outro, mas pareciam estar em frentes de batalha diferentes. É o que enxergamos também nesta Mostra: interpretações particulares de um mesmo tema; trabalhos que revelam traços da intenção de cada fotógrafo – ou, simplesmente, o que cada um quer contar em determinadas situações.
Mauricio Lima, agraciado em 2016 com o Prêmio Pulitzer, André Liohn, vencedor em 2011 da prestigiada Medalha de Ouro Robert Capa – duas honrarias inéditas recebidas por brasileiros – Gabriel Chaim, Yan Boechat, João Castellano e Felipe Dana estão todos focados nas grandes mudanças do mundo e comprometidos com a documentação de eventos que matam milhares de civis e destroem sociedades inteiras. Cada um desses nossos autores investigam o assunto a seu modo, com abordagem e interesses muito próprios.
Os seis ensaios que selecionamos para esta primeira mostra sobre a produção brasileira de fotografia de guerra e suas nefastas consequências são registros surpreendentes, que entram pelos poros e, infelizmente, tocam-nos pela estupidez e dor. Através do olhar desses bravos brasileiros, temos acesso privilegiado a esses momentos da História, além da chance de poder refletir a respeito do que os leva a acontecer e o absurdo que representam.
Curadoria, Fernando Costa Neto.